terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ultra

Esse é o início de um projeto, que vai postar Ultra experiências vividas por pessoas de carne e osso.
Dores, verdades, superação e amor... tudo isso vai ser compartilhado em textos e imagens.
Não tenho nenhuma pretensão de ser um escritor ou um jornalista, meu único objetivo é compartilhar experiências.
Alguns treinamentos serão postados, porém esse site não será de treinamento e nem exclusivo para corredores, na verdade o foco é para a pessoa e suas sensações.
Segue abaixo a minha primeira experiência ultra em maio deste ano.

75 km.
Você está louco!! Isso vai fazer mal para você! Essa é a reação imediata dos meus amigos, de minha família inclusive da minha mulher.
Aprendi lendo os livros de Amyr Klink que algo planejado, estudado e treinado não é uma loucura mas sim uma meta. O importante é saber dos riscos e respeitar sempre as nossas limitações. Foi com esse espírito que treinei para a minha primeira ultra, infelizmente uma lesão me impediu de completar os 75 km da prova Bertioga x Maresias em outubro do ano passado. Porém esse ano voltei o meu foco e os treinamentos para a prova de 75km Bertioga x Maresias do dia 30/05.
Dessa vez conversei com o Branca (meu treinador) que me passou o treinamento correto, e que me traria a segurança necessária para completar a prova. E olha que muitas vezes foi difícil seguir a planilha de treinamento, por causa de minha vida profissional que me ocupou alguns finais de semana chave dos treinos, me obrigando a realizar treinos longos no meio da semana, como numa quinta feira que corri 50 km dentro do parque do Ibirapuera. Nesses treinos usei a minha experiência de atleta e de profissional do esporte para achar o equilíbrio certo para minha alimentação, hidratação e ritmo.
Meses de treinos se passaram contando com a orientação do mestre Branca, apoio de colegas de treinos como o Nenê, Gentil, Domenic, Amelia, Celso, Paulão e toda a turma da noite e de toda equipe Branca Esporte.
Enfim o dia da prova... acordei já em Santos muito bem disposto, mas um pouco preocupado com o tempo que choveu bastante nos dias que antecederam a corrida. Acordamos as 4:00h eu e meu eterno apoio a Paty. Encontramos o Marcio e o Junior (apoios de bike) e as 5:40 estávamos na balsa a caminho de Bertioga. Chegamos por lá perto das 6:30 pegamos o Gentil no Hotel e fomos para a largada, lá encontramos todos da Equipe Branca e os guerreiros que assim como eu iriam encarar o desafio de 75 km: Gentil, Dos Anjos, Vivi, Zancopé, Selma, Joel, Edson, Fernando e outros desafiantes.
Larguei ao lado do Gentil e controlamos desde o inicio o ritmo de 6min/km, o clima estava ótimo, porém as condições da areia da praia estavam péssimas e o deslocamento na praia era duro, havia muitos canais com água na canela que pareciam se encher sempre que eu e o Gentil estamos chegando para cruzar, com isso fizemos um zig zag procurando sempre o melhor lugar para atravessar, que depois de uma hora se tornou inútil pois já estávamos com os pés encharcados. Após quase três horas de prova e 30 km o Gentil que estava sendo apoiado pela Sinara (diga de passagem que apoio!!), teve que fazer um pit stop e falou para eu continuar, olhei para trás e percebi que o ritmo dele estava mais lento e fiquei preocupado com ele, pois sabia que retornava de uma lesão e não havia tido tempo hábil para treinar para esta prova, enfim respirei fundo e continuei a prova agora só acompanhado pelo meu anjo da guarda na bike o Junior, mantive o mesmo ritmo do começo até 4 horas de prova... neste momento passou pela minha cabeça uma vontade tremenda de abandonar a prova, comecei a caminhar e fazer um check list mental: pés (bem), pernas (bem), costas (bem), pescoço (bem), hidratação perfeita, alimentação perfeita, extremidades sentindo bem, freqüência cardíaca e respiração normal. ERA A MINHA CABEÇA!! Discuti comigo por mais cinco minutos e voltei a correr intercalando 20 min de corrida com 10 min de caminhada. Com 4:30h encontrei a Paty no mesmo ponto que parei no ano passado, e parei, parei para trocar de tênis e meias e secar os pés. Claro que a minha super mulher trocou os tênis para mim e secou meus pés. Era o que eu precisava, mas faltava algo, foi quando comecei a correr e encontrei o Emerson (professor da Equipe Branca), e ele falou: lembra desse ponto aqui pois é, lembra e vai embora que aqui você não para mais! Era o que eu precisava ouvir .
Continuei com a mesma estratégia 20 min correndo e 10 min caminhando, e quando estava com 5 horas de prova eu tinha vencido, eu sabia que a chegada era só uma questão de paciência, então a frase era uma só. EU VOU ATÉ O FINAL!!
Assim que fui até completar os 64 km, passei pela Paty no último Posto de Controle e disse para ela: Môr só falta 11, EU VOU ATÉ O FINAL! Mas ainda faltava a serra de maresias, resolvi nessa etapa correr até a base da serra, chegando lá peguei com Junior o suficiente de alimentação e hidratação para eu completar a prova e disse para ele, agora eu vou sozinho e te encontro na linha na chegada, comecei a subir a serra, nessa altura subia apenas caminhando, outros atletas de revezamento passavam por mim e falavam palavras de apoio para eu correr, mas quando viam que estava correndo solo logo diziam: continue assim está ótimo! (era bem engraçado!), demorei por volta de 30 minutos para subir a serra chegando lá em cima faltava menos de 4 km e eu sabia que a maior parte era descida, no topo encontrei com os professores Rogerinho e Jackson, e gritei. EU VOU COMPLETAR, EU VOU ATÉ O FINAL, eles me deram aquele incentivo. Comecei a descer, soltei o freio e desci a 4’30’’ /km o que esta altura para mim era muito rápido. Quase no final da serra faltando menos de 2 km eu encontro o Branca e griei: MESTRE EU VOU COMPLETAR, EU VOU ATÉ O FINAL, já chorando e emocionado. Fui assim até a praia de maresias, onde correr estava quase impossível por causa da areia, mas quando consegui ver a chegada eu vejo a Paty. Segurei na mão dela chorando corri com ela até o final e disse Môr conseguimos!!

Para quem teve paciência de ler esse relato, isso foi o mais breve que pude redigir essa experiência inesquecível, que teve histórias fantásticas de todos que aceitaram o desafio: Joel que correu mais de 52 km e sei que estará pronto para a próxima e os que completaram 75: Selma, Vivi, Zancopé, Dos Anjos, Gentil, Fernando e Edson. Parabéns para todos e também para os que encararam o desafio no revezamento e nos apoiaram o tempo todo.
Agradecimentos :
Minha mãe, meu pai, minhas irmãs, meus sobrinhos, toda minha familia;
Todos os atletas e profissionais da equipe Branca Esporte;
Mestre Branca;
Junior;
Paty.





4 comentários:

  1. Adorei a ideia do blog, adorei as primeiras historias. Ja esta entre os favoritos no meu computador.
    bjs
    Lara

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  2. Parabéns a você e a todos da equipe Branca Esportes. Vocês são um exemplo a ser seguido.
    Um grande abraços
    Joel

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  3. Joel, vamos mudar a conjugação do verbo, trocamos vocês são por nós somos... nós somos.
    Obrigado e um abraço.

    Valeu Lara... por favor pense nos meus textos como se fosse o ovo de páscoa do sonho de valsa, a casca é mais o menos mas o conteúdo é o que vale. Bjs

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  4. Parabéns, Gustavo !!!!! Nunca se pode desistir de uma Ultra,tem que teimar sempre...Ultras é para quem gosta de desafios,pessoas determinadas,saudaveis e que está sempre de bem com a vida. Uma ultra de pista de atletismo, é a mais praseirosa que tem,pois ficamos ali com todos os nossos amigos Ultras, fazendo oque gostamos e sempre tem um que nos da força,como damos também força, para quem está prescisando naquele momento.Não existe idade para começar....
    Beijusss
    Lucina Ratinho

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